quinta-feira, 28 de abril de 2011

Chapeuzinho Vermelho do Século XXI

Quem nunca ouviu, ao menos uma vez, a perseguição do Lobo Mau à pequena e inocente criança que vai executar a tarefa que sua mãe determinou? Ontem eu ouvi a melhor versão dessa história!
E eis que surge o Lobo Mau (como sempre portando sua inconfundível aliança de ouro) trabalhando concentrado e determinado, parece bem resolvido e responsável. Não podemos dizer que é belo, mas certamente com aquele ar adulto e experiente torna-se atraente até para as mulheres mais experientes. 
Bem...ele está trabalhando e repentinamente aparece ela, inocente e bela, passa à sua frente e ele- que acreditava já haver domado seus instintos caçadores- levanta seus enormes olhos e a observa (mil pensamentos o consomem e deixa-se levar pelo prazer de ser lobo). É experiente e sabe que precisa ser discreto e, principalmente, deve ganhar a confiança da Chapeuzinho.
Os dias seguintes são utilizados para aproximar-se dela. Ele é gentil e atencioso, sabe usar bem as grandes orelhas e a ouve, mostra-lhe quão similares são seus pensamentos, usa de empatia e sim, ele a atrai! Se não fosse casado!
O tempo passa e o Lobo e a Chapeuzinho se tornam muito amigos (sempre com aquela tensão que conhecemos bem quando encontramos alguém que parece ser feito para nós), mas eles precisam parar de trabalhar juntos. Graças ao advento da modernidade, isso não atrapalhará os planos dele - internet e celular manterão a convivência e ele ganha mais um aliado: a ausência (sentir saudade é fundamental na hora da conquista).
E o Lobo segue envolvendo a Chapeuzinho, eles gostam das mesmas coisas, pensam parecido, até torcem para o mesmo time! Ela pensa nele vez por outra, deseja-o, mas esquece. Um belo dia ele parte para segunda fase, declara-se e demonstra para que servem seus grandes olhos: para capturar os detalhes (os brincos, a corrente no pescoço, o sorriso); também explica para que serve seu nariz grande: para perceber quando ela mudou de perfume, é claro! (Há quem resista a essas delicadezas?)
 A Chapeuzinho encanta-se, fica reticente, mas o sabor da aventura é tão mais sedutor!!! Ela dá muitos espaços para que ele vá mais longe e ele sugere o bosque.
­- Não! O que você está pensando? Que sou uma qualquer?
­- Nunca! Você é uma mulher para ser mimada, para ter tudo o que quer! (Eu não havia falado da grande boca, ela serve para ser sedosa, para dizer o que se quer ouvir!)
Os dias se passam e o Lobo começa a pensar que já não tem tanto talento, até que ela em uma bela manhã liga para ele
­- Tá desocupado? Tô na praia, vamos dar um passeio?
- É isso que você quer?
- Sim, e você? É isso que você quer? Eu não tenho nada a perder, já você...
Era o que ele queria, desejava aquilo mais que tudo, tanto tempo tentando!!! À praia!!!
E eis que a Chapeuzinho dá ao Lobo o que ele queria, pede um Chadon e volta pra casa. Como foi? Foi maravilhoso, o tato é, sem dúvida, o melhor dos sentidos do Lobo! Saem mais algumas vezes e divertem-se muito. Até que um dia recebe uma ligação em seu trabalho:
- Falei tudo para minha esposa, não consigo parar de pensar em você! Vamos ficar juntos!
- O quê? Tá louco? Deus, e eu que pensei que você era o Mau! Fala sério! Eu só queria me divertir, te resolve aí e me esquece! A gente não pode nem brincar nessa floresta! Droga!
É amigos, no século XXI é a Chapeuzinho que é má, e sem compromisso, por favor!!!

Menino Música


Ele era uma criança como as outras e sua principal preocupação era divertir-se: corria, brigava com os irmãos, sorria, e fazia valer todos os verbos aos quais um garoto tem direito. Mas ele era especial, possuía em suas mão as gotas de harmonia e sintonia , os tons e sons.
Uma vez, em meio às brincadeiras, ele reconheceu um violão. A mãe, um amigo, quem o havia dado? Naquele momento não lembrava. Apenas sentiu um aperto em seu coração, um doce prazer desconhecido, uma leve agonia eram as luzes da música que o envolviam, e ele inebriado deixou-se estar e brincou. As notas eram difíceis, um pouco dolorosas, mas aos poucos iam surgindo de suas mãos. ”Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones...” Sim, havia descoberto um novo verbo: musicar.
Daquele momento em diante, sempre que sentia aquela (já conhecida, mas ainda desorientadora) doce agonia, entregava-se ao prazer do novo verbo, e tocava, tocava. Em muitas dessas vezes aprendia um novo instrumento, e nesses dias ele ficava ainda mais feliz do que era sempre.
O tempo foi passando e o menino tocou em uma banda, e conquistou muitas meninas, inclusive a mulher de sua vida. Tocou em um grupo religioso, tocou em casa, saiu tocando! Um dia resolveu criar um coral, novo desafio pra suas mãos, mas se havia música, dos dedos surgiam as luzes da harmonia e em pouco tempo os acordes bailavam em seus olhos. Juntou um grupo de amigos e para fins religiosos começou a reger. Novamente o início era doloroso, mas seguia o ritmo de seu coração e... produzia música!
Mas as pedras da vida adulta bateram à sua porta e o menino de luzes musicais foi estudar. Sempre acompanhado dos acordes, tornou-se engenheiro e depois professor. Nesse momento a musica já coadjuvava, no entanto, por vezes seu coração acelerava e ele tocava, tocava.
A vida pede do homem mais do que ao menino, e aos poucos ele aprende escutar menos o coração. Brilha em sua vida profissional, reina na familiar, mas aquele verbo, aquele da infância, vai ficando cada vez mais em desuso. São muitas as atribuições de um adulto, não se pode perder tempo com sonhos juvenis. Até que em um domingo qualquer, ele chega em casa, entra no quarto do sobrinho, e os olhos brilham. O coração acelera. As mãos começam a estrelar. Um sorriso brota doce de seus lábios e ele se dirige, com a mesma angustia de anos atrás, àquele objeto - uma bateria!
E...toca, toca, toca...