Tic-tac, o relógio cruelmente não para de determinar meus passos.
Tic-tac, levanta cedo, tic-tac chuveiro em gotas de gelo, é hora de acordar!!!
Todos os sons da cidade. Ela grita em seu ritmo frenético, e tic-tac é o único som que consigo escutar.
O som das obrigações, o som do “não dá pra parar”, um seco som de melodia repetida e sem poesia, será?
Tic-tac metálico, cinzento, duro, voraz. Tic-tac sem alma, sem profundidade, tic-tac da produtividade, do consumo, do poder( ou seria do não poder?).
Tic-tac e todos dão bom dia... tic-tac já é tempo de almoçar... tic-tac e você volta para casa. Sentiu o dia passar? Choveu? Fez calor? Olhou para o céu alguma vez? Será que algum pássaro cantou? E esta noite terá luar? Tic-tac não deu para observar.
O corpo cansado, metas para alcançar! Tic-tac, os ponteiros avisam: é preciso realizar! Criatividade para ganhar dinheiro tic-tac, preciso genializar! Chopinho na praia? Conversa com os amigos, dessa vez( como sempre), não vai dar!
A madrugada chegou. Lembro que um dia fomos amantes...bebi cada gota de seu néctar inebriante, nos amávamos levados pela poesia e a boa música
. Sigo desejando-te madrugada, mas tic-tac preciso dormir!
Ai que saudades das letras, da juventude onde a encontrei ... do corredor repleto de surpresas, das discussões filosóficas sem fundamento teórico,da crença de que sabíamos muito, da sede por aprender mais!
Lá onde a Poesia reina soberana ao lado de seu amado Tom ( o musical) e da sua irmã Liberdade! Lá onde só se sabia que o tempo passou porque a noite nos abraçava, desse tempo sem tic-tac, mais leve, mais profundo, onde os olhos que se encontravam tinham alma. Lá onde não se pode chegar mais.
Tic-tac é melhor dormir, pois, tic-tac já já é hora de acordar! Que pena!