terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Adeus

“ O mal do século é a solidão, cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição”.  Renato Russo

Ele era belo.

De um sorriso contagiante e um olhar perscrutador.  Tinhas sonhos e medos como todo jovem.  Tinha foco, como poucos de sua idade.

Determinado, tal como criança ansiosa, buscava o que queria sem muitos cálculos, sem muito pudor. Era o dono, o comandante.

Ele era belo.  E sua beleza e juventude, seu ar de sabe-tudo, seu poder de persuasão, sua mão forte e voluntariosa em busca do que desejava escondia suas angústias.

Ele era belo, carismático e sozinho. 

Solidão que escondia no fundo dos olhos, lá onde desaprendemos a olhar, lá onde ele entedia que estava seguro seu segredo, lá onde ele sabia que ninguém ia observar.

Ele era belo. E o mundo acreditou que a vida lhe seria leve e doce, mas ele não queria o sol, nem a chuva, nem o branco nem o preto. Não queria passos predeterminados. Preferia o arco-íris.  Quis traçar o seu caminho, pensou que era forte, como a mão que usava para agarrar o que julgava seu.

Mas o caminho pelo ou para o arco-íris, esse caminho da contramão, é ferro, é fogo, é escuridão.  É dor perene que precisa ser curada diariamente.  É uma luta árdua, que nos traz as flores e seus perfumes, mas que não nos poupa os espinhos.

Ele era belo. E sua beleza foi cântico e balada, foi poeira, foi bola de sabão... passou colorindo e encantando, mas deixando cada vez mais deserto seu coração.

Ah, o coração. Quantas vezes ignoramos seus apelos?

O tempo, escultor incansável do que somos, deixou nele cicatrizes profundas. E o fundo de seus olhos guardava cada vez mais segredos, e sua cabeça cada vez mais tempestades e seu corpo cada vez mais dor.

Estava no arco-íris. Determinado como era, não desistiria de ali viver, mas com tanto peso guardado... com tantos espinhos encravados... não, ele não era tão forte quanto pensara.

O poeta estava errado, o mundo pesa muito mais que as mãos de uma criança. E por vezes somos a criança que precisa de colo, que quer dividir o peso, que só precisa chorar.

Ele agora decidira seduzir sua própria solidão. Ia casar-se com ela, dançar pela eternidade.

Ele era belo e determinado.

Um Chandon, uma foto, uma comemoração.

 Naquela noite livrar-se-ia de todo peso. Era a noite das núpcias. Um casamento sem convidados, sem música, banhado apenas pelo vermelho. O derradeiro ato das fortes mãos e o mais determinado de todos eles.

Seria a mais bela das dores, a da liberdade.

Voara em céu e terra rubros.

Ele era belo. E agora em seus olhos não havia mais nada. 

O dia amanhecera vazio, quente de sufocar.