quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Filha de marinheiro, sangue de mar

Ela caminha entre as pedras, brinca com as ondas que beijam seus pés, mas sua mente está longe de seus passos. Que pensamentos a dominam nesse instante? Saberá alguém decifrar? Silêncio e sorriso... será para nos desviar a atenção? Para impedir uma provável pergunta?
O dia mergulha na praia e surgem brilhantes e alegres as estrelas. Ela deita e as observa. Como a encanta aquele clima litorâneo! É filha de marinheiro, ama o mar. As palavras saem automaticamente, está curtindo a brisa e sonhando luares.  A seu lado, olhos verdes a interpretam por segundos. É claro como se entendem, é belo como se completam, mas embora estejam próximos, há  um abismo cruel entre o dono dos olhos e a donzela. Ela finge não perceber... conversam. Brincam como se estivessem de mãos dadas, e o tempo passa veloz e leve, mas o gélido da distancia por vezes se impõe.
O frio da madrugada aproxima os hálitos, corações aceleram. Por que é tão difícil construir uma ponte quando se conhece os perigos do outro lado?  O tempo vira. Suor e desejo se misturam e o despenhadeiro grita impedindo os movimentos. Calam-se e seguem.
É dia no oceano! Ela acorda alegre apesar da noite difícil. Música, perfume e mais sintonia, momentos divertidos...os olhos verdes exalam felicidade. Será que eles percebem a doçura daquele instante? E ela?  O que germina em seu coração?  
Eles a seguem respeitando os limites do abismo, mas estão claramente sob seu domínio e sentem-se afortunados, apesar de tudo.
Ela é filha de marinheiro... tem sangue de mar: com  o sal e profundidade que lhe são característicos, mas com o mistério e o risco não menos peculiares. É capaz de afogar: de amor ou de dor. Seu sangue marinho gosta da sedução e do arrastamento, mas está apto a cuspir o que não lhe satisfaz - inclusive os pobres olhos verdes que a acompanham. Ela guarda a vida, a beleza e a leveza, mas quem diria? O mar teme o beijo da noite e todos os espectros advindos de seu reinado!
 Os olhos verdes são o crepúsculo e trazem o anuncio das sombras. Ela os ama, os deseja... mas ela é filha de marinheiro, seu sangue cheio de ondas prefere a falta de paradeiro ou a calmaria da manhã.
Tempestade no ar... olhos verdes fixos e doces com mãos e coração abertos, meia ponte construída e um guarda-chuvas à espera. Ela construirá o restante da ponte? É filha de marinheiro, seu sangue agitado é imprevisível - mas ela sorri!