terça-feira, 23 de agosto de 2011

EFÊMERO X ETERNO



O que seria o eterno?  Alguém já o viu face a face?

Passamos a existência nos adaptando às mudanças do mundo, às evoluções tecnológicas, às modificações na ortografia, às reviravoltas da moda, da economia... vivemos no eterno desafio de nos encontrarmos no novo Eu que nos espera a cada cinco ou dez anos( quando demora tudo isso!!!).

Muda o tempo, as perspectivas, a natureza, as histórias. Mudam as esperanças, as crenças, os amores... eis aí nosso maior vilão: o Amor. Dono da sensação de eternidade e do desejo dela, o amor nos torna pessoas melhores, mas nos dá a ilusão do eterno. Envolve-nos, seduz- nos e entramos em seu doce mundo. E o Eterno se faz possível, visível, louvável. Ai! Como são claros, musicais e perfumados os dias nesse universo paralelo onde habita o amor.

O problema é que no inebriante estado em que nos encontramos quando amamos, não percebemos no Eterno apenas uma sombra e juramos beijar a sua face nos tornando amigos dele. O senhor Eterno nunca dá as caras, mas pensamos que desfrutamos de sua presença.

Não existe fato mais palpável que o Efêmero. Ele nos acompanha a cada dia, em cada ruga que nos amedronta, em cada vida que se vai, em cada novo aparelho eletrônico que compramos, em cada lua que brilha, em cada nascer do sol.  E, no entanto, o negamos.

Por que é tão difícil entender que o Eterno é ilusão?  Porque sofremos tanto com o fim de qualquer coisa, especialmente se esta coisa é o amor?  Por que a cada batida de coração mais acelerada pensamos que dessa vez é para sempre? Por que nos vemos sempre com aqueles vestidos de princesa da Disney que encontrou seu príncipe encantado?

Pergunto-me se mais uma vez estou sendo extremista. Lembro-me de uma  grande amiga chamando-me de romântica, discordo e penso: Seria mais fácil, menos doloroso e mais racional aproveitar o Efêmero.  

Sabendo que um dia vai acabar, talvez vivêssemos com mais intensidade tudo, disséssemos aos nossos pais o quanto nós os amamos, deixássemos um sorriso na face dos amigos a cada vez que os encontrássemos, levássemos uma rosa para pessoa amada sempre que tivéssemos vontade e declarássemos nosso amor todos os dias antes de dormir.  Talvez nos arrependêssemos menos e nos divertíssemos mais.

No meio dessas divagações ouço novamente a voz da amiga:  -Romântica!

Então meu coração aperta e diz: 

- É acreditando no Eterno que construímos as maiores realizações, é porque confiamos nele que adquirimos paciência e tolerância.  É movido pelo desejo da eternidade que nascem os sonhos e os frutos dele. É o Eterno que nos dá a doce e leve sensação do amanhã. O Eterno é o pai na tranqüilidade e da verdade. 


O ser humano e sua busca por conceitos!  O Efêmero é o Eterno que durou menos do que o esperado. Certo estava o poeta quando disse: “ Que seja eterno enquanto dure!”


Sim, ela tem razão: eu sou romântica!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Espelhos de Infância


Hoje estava na sala de aula e um redemoinho nos assolou. De repente senti aquele cheiro de areia molhada, gritos ingênuos, árvores, sorrisos. Eu e meus alunos, todos em miniatura, cantando aquelas músicas pueris, assistindo desenhos animados que não existem mais, vivenciando cada dose de doçura que só a infância é capaz de nos inspirar.
Segundos paralisada... tantas cores, tantos saltos, tanta inocência! “Batatinha frita um dois três...”, “ Com quem, com quem, Maria vai casar: loiro, moreno, careca, cabeludo, rei, ladrão, polícia, capitão!"
 Uma energia interminável e abraços...já pensou em quantos abraços ganhamos quando somos crianças? Vida leve, sonhos, coração pleno de todos os sentimentos do mundo. A existência se resume a sorrisos ou lágrimas, e como eles brotam livres de nossos rostos!
A melhor parte encontra-se nos brinquedos... nesse tempo não havia computadores em todas as casas, eletrônicos eram objetos em que não podíamos tocar, pois eram caros e “perigosos”! Então, ficávamos em frente à televisão ou corríamos para rua... Deus! A rua era o mundo, era onde conhecíamos as coisas, onde podíamos tudo, de reis a mendigos construíamos um universo paralelo onde interpretávamos todos os papéis! A rua...50 metros de pura aventura! 
Passávamos horas fabricando pipas, roupas para bonecas e estilingue.  Aquela meia rasgada que você não usa mais? Na magia da rua se juntava a outras e transformava-se em uma agradável bola que nos divertia por dias a fio. Aquele elástico que sobrou da roupa que a vovó costurava (sim, as vovós costuravam nesse tempo e sempre nos davam belos presentes germinados em suas mãos )?  No condão da rua, era objeto de onde brotavam saltos e risadas! Cordas, tábuas, garrafas plásticas, latas, tudo se transformava em doces alegrias.
Na TV, Trapalhões, Xuxa, Angélica, Mara Maravilha, Fofão! E os desenhos? He-Man, She-Ha, Tunthercats, Os Smurfs, Ursinhos Carinhosos, O fantástico mundo de Bob...  Tudo parece tão terno agora!!!
           Novo redemoinho... aos poucos os perfumes de rosas, terra molhada, doces, pipoca  e suor vão ficando pra traz. Durou apenas alguns segundos, mas nos levou a uma terra que não  sentíamos mais como era. 
           Recordar é viver, sim! Das lembranças sobraram os sorrisos e a saudade.