Cores, sons, sonhos, mix de
sentimentos e uma beleza indescritível.
Como diria o poeta, não havia palavra que materializasse aquela
paisagem, era a morada do amor. Pintada em tonalidades diversas e harmonias
divinais, escondia também chuvas e cinzas, mas ninguém era capaz de perceber,
tal o encantamento diante do primeiro encontro com aquele lugar.
Ao pisar no solo sagrado do amor
criam-se asas e tocar o chão passa a ser opcional. Nossos sentidos ficam mais
sensíveis e a junção dos amantes é tão bela que se assimila ao bailar das aves
ao pôr do sol.
Ele observava as atitudes de
todos que diziam amar, e desejava ver o mundo com aquela luz. Sonhava com o dia
que um olhar o dominaria de tal forma que o tele transportaria para a terra
onde as palavras nascem. Saiu a procurar durante as noites e inebriava-se de
cheiros e sons na espera de viver o amor. Sonhou, sonhou, mas ao acordar estava
no mesmo lugar vazio e seco do sempre.
E foi em uma tarde comum que um
abraço apertado levou-o lá. Inesperadamente, incontroladamente encontrava-se
pela primeira vez nos campos do amor, sempre sonhara com o momento em que
habitaria, mesmo que por poucos instantes, aquele quadro tão encantador.
Quantas vezes perguntara-se como seria cada perfume daquelas cores... e agora
encontrava-se ali, imerso, parado, sem saber bem o que fazer.
Agora que recebera o sopro do
amor, temia...tremia! Sentia-se repleto de tudo, brilhava, e havia notas
musicais em cada pensamento. Estava confuso, queria cantar e correr cada metro
do amor, mas sabia que naquelas paragens existiam recantos que não eram
cantados pelos poetas e músicos, lugares onde o sol não entrava e onde a dor
atingia seu verdadeiro significado. Já estava até melodramático! Era o toque do amor!
Aos poucos se acalmou e relaxamente
passou a desvendar os mistérios do lugar, viu que era lá mesmo onde nasciam as
palavras: transparentes, inocentes, límpidas dançavam ao som dos pássaros, elas
não eram positivas nem negativas, apenas translúcidas e brilhantes, eram
exatamente como o poeta as descrevera sem forma ou significado, leves e
flamejantes a espera do ser que as atribuiria valor. Elas brotavam dos galhos
das árvores, das gotas de chuva ou mesmo do sol, estavam sempre nascendo e
renascendo.
Era na morada do amor que viviam
também todos os sonhos, existia uma vila no alto da maior montanha onde eles
conviviam na santa paz.
Muitos residiam naquelas terras, mas quem
reinava era o amor e sua família. Pai amoroso e profícuo, teve muitos filhos,
todos doces e harmoniosos à sua semelhança - a única que lhe dava dores de
cabeça era a Arte, sua filha rebelde, que embora tenha sempre os olhos e as
mãos dedicadas do amor, só atinge sua beleza máxima quando é expulsa de sua
casa e esquecida, nem que seja por pouco tempo, pelo pai.
Ele, o amante de primeira viagem,
assistia a tudo e bebia cada gota do que aquele espaço o proporcionava. Estava
deslumbrado e surpreendido. Tudo o
comovia, mas o que mais chamou sua atenção foi o rio que corria para cima dos
montes, o amor explicou-lhe que em alguns pontos de sua terra a lei da
gravidade era inversa e tudo era levado ao topo, quem habitava aqueles espaços
tendia a alcançar os maiores pontos em sua vida, isso também explicava a
facilidade de voar e a dificuldade de manter-se no chão.
O amante ainda fez muitas
descobertas e viveu inúmeras aventuras naquele lugar mágico, e sempre que
encontrava o amor parecia que suas energias eram renovadas e buscava ainda mais
novidades para aprender.
Quanto tempo durou essa mágica
viagem? Nem ele, o amante, saberia responder. O fato é que um dia acordou em um
quarto escuro, ainda com os perfumes e as cores do amor nas mãos, mas a sua
volta o velho e cinza vazio o espreitava.
Estava frio e chovia forte, onde fora parar o aconchego daquele abraço?
Por que fora arrebatado daquele momento tão sublime?
Não existem muitas explicações
nem para os sentimentos, nem para aquela chuva sem fim, nem para o desânimo do
amante. Alheio ao que acontecia no
quarto e apesar da tempestade, um corajoso sabiá insistia em cantarolar. Essa
persistência da ave motivou o amante a levantar-se. Olhou pela janela e
lembrou-se dos sons daquele lugar. Seu coração batia forte, no compasso das
gotas de chuva. Arrumou-se e saiu a
assobiar. Havia de encontrar novos olhos e braços, novos laços, pois, como disse o poeta: ainda existe o coração.
Que venham, pois, os novos amores!
Que venham, pois, os novos amores!