terça-feira, 3 de julho de 2012

A terra onde moras


Cores, sons, sonhos, mix de sentimentos e uma beleza indescritível.  Como diria o poeta, não havia palavra que materializasse aquela paisagem, era a morada do amor. Pintada em tonalidades diversas e harmonias divinais, escondia também chuvas e cinzas, mas ninguém era capaz de perceber, tal o encantamento diante do primeiro encontro com aquele lugar.
Ao pisar no solo sagrado do amor criam-se asas e tocar o chão passa a ser opcional. Nossos sentidos ficam mais sensíveis e a junção dos amantes é tão bela que se assimila ao bailar das aves ao pôr do sol. 
Ele observava as atitudes de todos que diziam amar, e desejava ver o mundo com aquela luz. Sonhava com o dia que um olhar o dominaria de tal forma que o tele transportaria para a terra onde as palavras nascem. Saiu a procurar durante as noites e inebriava-se de cheiros e sons na espera de viver o amor. Sonhou, sonhou, mas ao acordar estava no mesmo lugar vazio e seco do sempre.
                E foi em uma tarde comum que um abraço apertado levou-o lá. Inesperadamente, incontroladamente encontrava-se pela primeira vez nos campos do amor, sempre sonhara com o momento em que habitaria, mesmo que por poucos instantes, aquele quadro tão encantador. Quantas vezes perguntara-se como seria cada perfume daquelas cores... e agora encontrava-se ali, imerso, parado, sem saber bem o que fazer.
Agora que recebera o sopro do amor, temia...tremia! Sentia-se repleto de tudo, brilhava, e havia notas musicais em cada pensamento. Estava confuso, queria cantar e correr cada metro do amor, mas sabia que naquelas paragens existiam recantos que não eram cantados pelos poetas e músicos, lugares onde o sol não entrava e onde a dor atingia seu verdadeiro significado.   Já estava até melodramático!  Era o toque do amor!
Aos poucos se acalmou e relaxamente passou a desvendar os mistérios do lugar, viu que era lá mesmo onde nasciam as palavras: transparentes, inocentes, límpidas dançavam ao som dos pássaros, elas não eram positivas nem negativas, apenas translúcidas e brilhantes, eram exatamente como o poeta as descrevera sem forma ou significado, leves e flamejantes a espera do ser que as atribuiria valor. Elas brotavam dos galhos das árvores, das gotas de chuva ou mesmo do sol, estavam sempre nascendo e renascendo.
Era na morada do amor que viviam também todos os sonhos, existia uma vila no alto da maior montanha onde eles conviviam na santa paz.
 Muitos residiam naquelas terras, mas quem reinava era o amor e sua família. Pai amoroso e profícuo, teve muitos filhos, todos doces e harmoniosos à sua semelhança - a única que lhe dava dores de cabeça era a Arte, sua filha rebelde, que embora tenha sempre os olhos e as mãos dedicadas do amor, só atinge sua beleza máxima quando é expulsa de sua casa e esquecida, nem que seja por pouco tempo, pelo pai.
Ele, o amante de primeira viagem, assistia a tudo e bebia cada gota do que aquele espaço o proporcionava. Estava deslumbrado e surpreendido.  Tudo o comovia, mas o que mais chamou sua atenção foi o rio que corria para cima dos montes, o amor explicou-lhe que em alguns pontos de sua terra a lei da gravidade era inversa e tudo era levado ao topo, quem habitava aqueles espaços tendia a alcançar os maiores pontos em sua vida, isso também explicava a facilidade de voar e a dificuldade de manter-se no chão.
O amante ainda fez muitas descobertas e viveu inúmeras aventuras naquele lugar mágico, e sempre que encontrava o amor parecia que suas energias eram renovadas e buscava ainda mais novidades para aprender.
Quanto tempo durou essa mágica viagem? Nem ele, o amante, saberia responder. O fato é que um dia acordou em um quarto escuro, ainda com os perfumes e as cores do amor nas mãos, mas a sua volta o velho e cinza vazio o espreitava.  Estava frio e chovia forte, onde fora parar o aconchego daquele abraço? Por que fora arrebatado daquele momento tão sublime?
Não existem muitas explicações nem para os sentimentos, nem para aquela chuva sem fim, nem para o desânimo do amante.  Alheio ao que acontecia no quarto e apesar da tempestade, um corajoso sabiá insistia em cantarolar. Essa persistência da ave motivou o amante a levantar-se. Olhou pela janela e lembrou-se dos sons daquele lugar. Seu coração batia forte, no compasso das gotas de chuva.  Arrumou-se e saiu a assobiar. Havia de encontrar novos olhos e braços, novos laços, pois,  como disse o poeta:  ainda existe o coração.
Que venham, pois, os novos amores!