quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Adeus

Ele mira o pôr do sol e as cores fortes o envolvem.
Sua imagem está turva na água parada na qual observa seu reflexo.
Adeus. Há Deus no ponto final? Ou seria uma sugestão de entregar a Deus os acordes finais? Mas a que deus?
Hades? Para enterrar tudo o que dói?
Khronos? Para que sopre todas as pétalas caídas, todas as pedras ensanguentadas e as transforme em adubo e alicerce?
Afrodite? Para que dance com a dor até que ela seja, apenas, notas tristes e mergulhe nas doces e singelas cores de um novo amor?
Ou cada um desses deuses e deusa trabalha  lenta e constantemente no fim e, por isso, há deus?
Lágrimas grossas caem na água turva. Talvez no final do arco-íris só haja a lembrança dos sonhos idealizados. Talvez seja - somente - o vazio de quem não sabe mais para onde ir.
Ou para além do arco-íris é necessário caminhar e o pote é aquilo que fica depois do fim?
Já é noite alta e a lua é o único reflexo possível na água.
É hora de levantar.
A única verdade é que cedo ou tarde o sol vai nascer.