Olhos fechados, chocolates e música. Ela estava lembrando os últimos momentos que viveram juntos. O que os havia separado? A morte? Muito pior... a vida! Ela o conhecera por baixo da máscara da paixão, e sim, ele era um lobo mau! Indeciso, inconstante, atraente, impulsivo, insistente, apaixonante!
Ela havia decidido afastar-se, não precisava daquele torpor! Mas aquele perfume amadeirado e forte ainda impregnava sua roupa e poluía sua pele. E o sorriso? Parecia que o sol emprestava alguns de seus raios àquela boca. E que boca! Estava, definitivamente, envolvida! Mas iria esquecer! Sim... o homem é um ser que se diferencia dos outras animais pelo poder de controlar seus instintos( será ?). Sim... ela conseguirá!
Por que é tão difícil deixar ir? Por que a razão só aponta o caminho, mas não desativa a memória? O tempo iria agir, é fato, mas como é lento o vagar das horas quando o que temos que fazer não condiz com o que desejamos! Por isso ela permanecia calada, quieta, envolta com seus chocolates (quando há mágoas e dores, só muito vinho ou cacau ao leite!)
A Chapeuzinho não era nem nova demais, nem velha demais. Não era o que se pode chamar de mulherão, mas não era (nem de longe) feia! Era inteligente, bonita, divertida: atraia facilmente a atenção das pessoas. Sofrera uma vez por amor, achava que estava vacinada, mas o Lobo Mau lhe apareceu e a fez muito feliz, até entender que uma caverna só não bastava!
O grande problema é que não existe precaução contra a paixão: ela chega sorrateira, leve, dançante e arrebatadora. Vermelha, doce e viciante, a paixão fecha os olhos de suas vítimas e intensifica todos os outros sentidos. É irresistível, inegável, seria também invencível? Após navegar hipnoticamente por seus mares, Chapeuzinho precisava libertar-se, não por ele, que em seu coração ainda reinava como Apolo, mas por si. Ela não precisava de um Lobo, que inesperadamente some ao amanhecer, queria e merecia um leão para dar-lhe segurança e carinho adormecendo e amanhecendo em seus braços. Não seria melhor um Lobo na mão do que uma floresta inteira vazia? Como saber? O que acreditava é que manter-se naquela viagem insana não era bom. Agora que tinha certeza que o Lobo precisava voar, resolveu dar-lhe as asas e o céu inteiro.
Dias chuvosos se seguiram, horas alegre, horas tristes, e o tempo foi fazendo seus remendos no coração da Chapeuzinho. Vez por outra ele vinha-lhe à memória, e esses momentos eram cada vez mais fugazes. Se a deprê ameaçava, enchia-se de chocolate e tudo se iluminava.
Em uma noite de Novembro, alguns anos depois de tudo, olhou-se no espelho: estava diferente, mas seguia bela. Ela não sorriu, mas sua imagem refletida parecia feliz. Resolveu sair, encontrar alguns amigos com os quais há muito não saia.
Em uma noite de Novembro, alguns anos depois de tudo, olhou-se no espelho: estava diferente, mas seguia bela. Ela não sorriu, mas sua imagem refletida parecia feliz. Resolveu sair, encontrar alguns amigos com os quais há muito não saia.
O sabor da noite é sempre revigorante, a madrugada nos faz sentir mais joviais, e quando a vencemos, somos mais fortes. Chapeuzinho voltara a conhecer esse gosto e inebriara-se. Havia sido cortejada, passara todo tempo entre sorrisos e educados nãos. Sabia-se mais bela e resistente. Ela não se entregaria a vendavais: intensos, mas destruidores e passageiros. Não passaria mais horas comendo chocolates, eles aliviam todo o mal, mas engordam (e que mulher quer sentir-se gorda?).
Estava em frente ao mar, sentia-se renovada, curada, pronta pra enfrentar novamente os desafios da floresta. O dia já sorria-lhe e Apolo fazia-se todo luz e azul. Sorriu, seguiu... acharia seu leão? Não sabia, mas o que custa estar pronta para encontrá-lo?
Entre os verdes arbustos doces olhos a espiavam, era o Lobo, o Leão, ou outro animal qualquer? Não importa a forma que assumira, era ela- a paixão- que, novamente em vermelho ardor, a espreitava pacientemente.
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