quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mais que Lobos e Chocolates


           Olhos fechados, chocolates e música. Ela estava lembrando os últimos momentos que viveram juntos. O que os havia separado? A morte? Muito pior... a vida! Ela o conhecera por baixo da máscara da paixão, e sim, ele era um lobo mau! Indeciso, inconstante, atraente, impulsivo, insistente, apaixonante!
Ela havia decidido afastar-se, não precisava daquele torpor! Mas aquele perfume amadeirado e forte ainda impregnava sua roupa e poluía sua pele. E o sorriso? Parecia que o sol emprestava alguns de seus raios àquela boca. E que boca! Estava, definitivamente, envolvida! Mas iria esquecer! Sim... o homem é um ser que se diferencia dos outras animais pelo poder de controlar seus instintos( será ?). Sim... ela conseguirá!
Por que é tão difícil deixar ir? Por que a razão só aponta o caminho, mas não desativa a memória?  O tempo iria agir, é fato, mas como é lento o vagar das horas quando o que temos que fazer não condiz com o que desejamos! Por isso ela permanecia calada, quieta, envolta com seus chocolates (quando há mágoas e dores, só muito vinho ou cacau ao leite!)
A Chapeuzinho não era nem nova demais, nem velha demais. Não era o que se pode chamar de mulherão, mas não era (nem de longe) feia!  Era inteligente, bonita, divertida: atraia facilmente a atenção das pessoas.  Sofrera uma vez por amor, achava que estava vacinada, mas o Lobo Mau lhe apareceu e a fez muito feliz, até entender que uma caverna só não bastava! 
O grande problema é que não existe precaução contra a paixão: ela chega sorrateira, leve, dançante e arrebatadora. Vermelha, doce e viciante, a paixão fecha os olhos de suas vítimas e intensifica todos os outros sentidos. É irresistível, inegável, seria também invencível? Após navegar hipnoticamente por seus mares, Chapeuzinho precisava libertar-se, não por ele, que em seu coração ainda reinava como Apolo, mas por si. Ela não precisava de um Lobo, que inesperadamente some ao amanhecer, queria e merecia um leão para dar-lhe segurança e carinho adormecendo e amanhecendo em seus braços.   Não seria melhor um Lobo na mão do que uma floresta inteira vazia? Como saber? O que acreditava é que manter-se naquela viagem insana não era bom. Agora que tinha certeza que o Lobo precisava voar, resolveu dar-lhe as asas e o céu inteiro.
Dias chuvosos se seguiram, horas alegre, horas tristes, e o tempo foi fazendo seus remendos no coração da Chapeuzinho. Vez por outra ele vinha-lhe à memória, e esses momentos eram cada vez mais fugazes. Se a deprê ameaçava, enchia-se de chocolate e tudo se iluminava.  
Em uma noite de Novembro, alguns anos depois de tudo, olhou-se no espelho: estava diferente, mas seguia bela. Ela não sorriu, mas sua imagem refletida parecia feliz. Resolveu sair, encontrar alguns amigos com os quais há muito não saia.
O sabor da noite é sempre revigorante, a madrugada nos faz sentir mais joviais, e quando a vencemos, somos mais fortes. Chapeuzinho voltara a conhecer esse gosto e inebriara-se. Havia sido cortejada, passara todo tempo entre sorrisos e educados nãos. Sabia-se mais bela e resistente. Ela não se entregaria a vendavais: intensos, mas destruidores e passageiros. Não passaria mais horas comendo chocolates, eles aliviam todo o mal, mas engordam (e que mulher quer sentir-se gorda?).
Estava em frente ao mar, sentia-se renovada, curada, pronta pra enfrentar novamente os desafios da floresta. O dia já sorria-lhe e Apolo fazia-se todo luz e azul. Sorriu, seguiu... acharia seu leão? Não sabia, mas o que custa estar pronta para encontrá-lo? 
Entre os verdes arbustos doces olhos a espiavam, era o Lobo, o Leão, ou outro animal qualquer? Não importa a forma que assumira, era ela- a paixão- que, novamente em vermelho ardor,   a espreitava pacientemente.

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