sábado, 17 de dezembro de 2011

Sem/Cem palavras


Li um dia que se para cada uma das coisas e sentimentos houvesse uma denominação a comunicação seria facilitada e as pessoas se entenderiam melhor. Quando estava na faculdade, em uma das minhas melhores disciplinas, aprendi que o homem denomina o que conhece. É pela necessidade que as palavras são criadas. Na Bíblia, a metáfora Adão criou todos os substantivos.
                Hoje estou angustiada, aflita, triste... não, nenhuma dessas palavras traduz  meus sentimentos, o que sinto não foi dicionarizado, dito, demarcado. Pertence apenas ao meu universo íntimo.  Será que ninguém sentiu isso antes? Por que não consigo palavra que alcance tal incômodo? Não. O que sinto não é tão gigantesco que não possa ser posto em uma palavra. Talvez seja tão micro...
 Cientistas batizam novas descobertas a cada dia. Em nosso cotidiano, para cada inovação um predicado inédito - ou quase.  E me questiono se seria possível traduzir tudo em vocábulos, se é mesmo a necessidade que determina o neologismo. Será que ninguém nunca quis nomear determinados flashes que perfuram nosso cotidiano e apertam o coração? 
Penso que as palavras foram feitas para o macro. Mas o átomo não é macro! Será? O átomo é o máximo que conseguimos traduzir do invisível. Menor que ele não existe, ou não tem nome? Sim. As coisas só têm título quando não são suportavelmente indizíveis. Se passarão, encontramos algo que traduza mais ou menos e pronto!
É para o macro, o insuportável, é para o que não se pode camuflar que são feitos os conceitos. E é natural! Já pensou se tivéssemos um termo para cada pequena partícula da existência? Não conhecemos todas as expressões que já existem, imaginem se fosse diferente, levaríamos toda uma vida tentando dominar as palavras e muitas, inúmeras, nos escapariam como água na mão.
Uma palavra para cada poeira de sentimento inutilizaria a arte. Transformaria o cotidiano em uma eterna e enfadonha busca ao dicionário. E me pergunto se realmente é possível materializar, verbalizar as gotas significativas e misteriosas que permeiam nosso universo interior.
Adão estava certo, quem sabe se Deus não lhe deu a dica? O macro, o impossível, o necessário deve ser nominado. O micro, o misterioso, o que passa sem deixar profundas cicatrizes, deve ser sentido, vivido e esquecido. 
E eu? Escrevo, converso com amigos, lacrimejo... amanheço,  penso! Passou!

4 comentários:

layse disse...

Muito lindo:)
arrasou!

Margot disse...

"Palavras não são más
Palavras não são quentes
Palavras são iguais
Sendo diferentes
Palavras não são frias
Palavras não são boas
Os números pra os dias
E os nomes pra as pessoas
Palavra eu preciso
Preciso com urgência
Palavras que se usem
em caso de emergência
Dizer o que se sente
Cumprir uma sentença
Palavras que se diz
Se diz e não se pensa
Palavras não têm cor
Palavras não têm culpa
Palavras de amor
Pra pedir desculpas
Palavras doentias
Páginas rasgadas
Palavras não se curam
Certas ou erradas
Palavras são sombras
As sombras viram jogos
Palavras pra brincar
Brinquedos quebram logo
Palavras pra esquecer
Versos que repito
Palavras pra dizer
De novo o que foi dito
Todas as folhas em branco
Todos os livros fechados
Tudo com todas as letras
Nada de novo debaixo do sol"
Titãs

Margot disse...

Teus textos me deixam sem palavras!!!
Continue....
Depois vamos organizar tudo em forma de livro?!!!

Alice Barros disse...

"Amanheço, Penso! passou..."
amei tudo bizinha! Lindo, lindo!