domingo, 1 de dezembro de 2019

Sobre cobras

Dias desses eu estava em uma trilha e o guia nos apresentou uma linda jiboia. Tivemos o prazer de apreciá-la, tocá-la. Percebê-la como o ser incrível que é. No meio da algazarra que se tornou o encontro com a cobra,  alguém pediu para pegá-la por completo( o responsável pela trilha mantinha a cabeça dela devidamente imobilizada para que não atacasse ninguém) e o rapaz respondeu: “ Por mais que ela pareça domesticada, inofensiva e afável,  ela é uma cobra, cobras não se apegam, não criam vínculos, cobras são sempre cobras.”. Meu Deus! Será que ele sabe a profundidade do que disse? Quantas cobras passam por nossa vida? As peçonhentas são facilmente identificáveis porque deixam seu rastro venenoso por onde passam e para evitá-las basta um pouco de atenção( olhos e ouvidos atentos). Mas o risco mora na convivência com as jiboias e afins. Essas são encantadoras, afáveis e  muitas vezes belas. Exercem, sobre o sujeito comum, um grande fascínio. Por não soltarem veneno, deixam a sensação de segurança. Suas ações parecem sempre  admiráveis e permitimos- com satisfação-  que se aproxime. Aos poucos elas vão lhe envolvendo e você vai acreditando que aquele abraço é puro amor. De repente, sua vida está envolta pelas cores da jiboia e fica cada vez mais natural -para você- aquele cansaço, aquela entrega.  Você não percebe que paulatinamente ela leva de você toda sua energia, que ela o sufoca, que – em nome do amor declarado-  ela quebra cada pedacinho dos seus ossos e vai levando de você todo o seu melhor, para enfim, após apagar você ( emocional, profissional e psicologicamente) engolir o que restou.  E sabe o que  é mais sombrio? Elas seguem rumo à próxima vítima sem qualquer remorso ou dor. Sim, cobras são sempre cobras. Elas não se apegam,  não criam vínculos. Entregam um pseudoamor, uma pseudoamizade em troca do que desejam ( status social, dinheiro, cargos, sexo, ou mesmo o prazer de seduzir e abandonar) e quando conseguem, seguem. A convivência com jiboias nos deixa em frangalhos e se conseguimos sobreviver, nunca, nunca mais seremos os mesmos...

4 comentários:

adyloira disse...

Cobras são realmente sempre cobras... elas nem me encantam e nem me fascinam. Eu prefiro as cobrinhas chamadas eletricas que soltamos nas festas juninas...

Maralvo disse...

Ótimo texto, boa comparacao. Creio que a vida é evolução, assim como os animais o ser humano tem que buscar a perfeição. O problema é que muitos se quer querem fazer auto análise ou se reformarem intimamente.

Unknown disse...

Perfeito!

Margot disse...

"Por mais que ela pareça domesticada, inofensiva e afável, ela é uma cobra, cobras não se apegam, não criam vínculos, cobras são sempre cobras"... Pensamento bastante instigante... mais mais instigante achei outro trecho seu, podemos percerber uma cobra quando ela se aproxima de nós com olhar mais atento... então que estejamos preparados para as cobras virem... e passarem e a gente consiga sobreviver apesar delas.

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